Quando a vida se resume a um amontoado de caixas de papelão
Empilhadas em um canto qualquer
Algo há de errado.
De certo, dessa vida nada se leva senão a vida que se viveu
A plenitude do vôo e os tombos não menos doloridos
A alegria de viver...
De tudo que fomos, o que sobrou no final
Foi o mapa da estrada que percorri e algumas caixas... caixas de mudança, será?
Do pó, ao pó...
Depois do furacão que me cercou, me deixou sem chão e sem poder voar,
Em uma queda livre sem fim...
Algo estranho aconteceu...
Tive a sensação de que ao cair, virei restos,
Lembranças em velhas caixas empoeiradas,
transportadas de qualquer jeito,
Amontoadas em algum lugar.
Ainda não tive coragem de abri-las,
São como feridas, chagas na alma, que ainda não consigo suportar.
Melhor deixá-las lá, cicatrizando, esquecidas em um canto qualquer...
Caixas de velhos livros, fotos, roupas e coisas (hoje) sem valor...
Apenas caixas... caixas de mudança...
E o mais interessante é que eu não me resumo a elas,
Existo apesar delas e, talvez, nem as leve para onde eu for...
Mas dói ver tudo que lutei, tudo que arrisquei, tudo que eu fiz
Se resumir, hoje, a algumas caixas empoeiradas
Que alguém juntou, sem qualquer piedade,
Embrulhou e despachou para qualquer lugar
Para limpar o espaço que antes, dizia também ser meu!
Difícil acreditar na justiça humana depois disso...
Prefiro algo divino, alado...
Meu paradoxo é que,
Aonde vou, não poderei levar nem essas caixas de mudança...
Elas não me permitem, voar...
E deve haver mais na vida que amontoar caixas e mais caixas de coisas inúteis
Deve haver um céu maior...
Mas esse vôo é solitário... eu sabia disso...será?
Mas acreditei numa ilusão:
Eu pensei ter encontrado outra gaivota como eu...
Com ousadia e coragem de voar alto,
Além do que podia pensar possível...
Mas foi um sonho que se transformou em pesadelo
Que está empacotado na caixa de lembranças daquele canto.
Lá, jazem fotos, recados, falsas promessas, flores secas, murchas e esquecidas... uma caixa de nadas que um dia significaram tudo...
Junto com algumas dores, um vazio no coração e sonhos despedaçados...
Para que guardar tudo isso?
Preciso alçar vôo, preciso ir além e apesar dessa desilusão, só assim, terei paz...
E, talvez, serei feliz...
Mas o peso das caixas de mudança, não me permite voar...
E fico aqui, sofrendo, presa ao solo...
Vendo as caixas empoeiradas empilhadas num canto qualquer... como se me aprisionassem ao passado,
Melhor libertar minhas asas então!
Voar... mudar,
Não mais gaivota solitária, mas uma Fênix!
E deixar todas as caixas, inúteis...
Para trás.
AMW. Fênix!
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